Coretta Scott King

Morreu Coretta Scott King, viúva de Martin Luther King. Tinha 78 anos.
As bandeiras estão a meia haste e o Presidente Bush iniciou hoje o discurso do estado da união, no Congresso, referindo-se a Coretta Scott King . (Umas palavras um bocado atabalhoadas, como é normal no Presidente Bush).*

Martin Luther King é celebrado num feriado (há quinze dias) e dá nome a auto-estradas e escolas (como se vê nestas fotos de San Diego), mas o seu sonho** está ainda muito longe da realidade. Creio que há uma forte componente do politicamente correcto, sem grandes consequências. É a minha percepção, após dezenas de anos de exposição à cultura globalizante norte-americana e quatro meses na Califórnia.
Basta percorrer certos bairros de San Diego. E também ver quem é que utiliza os transportes públicos.
É talvez significativo que o mural de Luther King mal se vê atrás das redes que separam a rua da escola (Martin Luther King Elementary School). E a placa na auto-estrada (Martin Luther King Jr Freeway) está no sentido norte-sul, saíndo dos Estados Unidos em direcção ao México.
Um dado curioso é que Coretta Scott King não morreu nos Estados Unidos, mas sim em Rosarito (uns 25 km a sul de San Diego), no México, onde se tinha deslocado a uma clínica de medicinas alternativas. Porém, faleceu antes de iniciar o tratamento.


* "Today our nation lost a beloved, graceful, courageous woman who called America to its founding ideals and carried on a noble dream. Tonight we are comforted by the hope of a glad reunion with the husband who was taken from her so long ago, and we are grateful for the good life of Coretta Scott King." (Discurso de Bush, 31 de Janeiro de 2006).

** "I say to you today, my friends, so even though we face the difficulties of today and tomorrow, I still have a dream. It is a dream deeply rooted in the American dream. I have a dream that one day this nation will rise up and live out the true meaning of its creed: "We hold these truths to be self-evident: that all men are created equal." I have a dream that one day on the red hills of Georgia the sons of former slaves and the sons of former slave owners will be able to sit down together at the table of brotherhood. I have a dream that one day even the state of Mississippi, a state sweltering with the heat of injustice, sweltering with the heat of oppression, will be transformed into an oasis of freedom and justice. I have a dream that my four little children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character. I have a dream today. I have a dream that one day, down in Alabama, with its vicious racists, with its governor having his lips dripping with the words of interposition and nullification; one day right there in Alabama, little black boys and black girls will be able to join hands with little white boys and white girls as sisters and brothers. I have a dream today."

Excerto do discurso de Martin Luther King, 28 de Agosto de 1963.
Tradução:

Eu vos digo hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.
Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter.
Eu tenho um sonho hoje.
Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos.
Eu tenho um sonho hoje.

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