Quem é que tem o dinheiro?

Não há muito tempo perguntei onde é que está o dinheiro?, já que a riqueza nacional é cada vez maior (números oficiais e não oficiais) mas os assalariados têm cada vez menos disponível e cada vez menos serviços públicos. Ninguém me respondeu, mas eu desconfio.

Notícias recentes* indicam que os quatro maiores bancos tiveram um crescimento médio de 24% nos seus lucros no primeiro trimestre deste ano (chegando o BES aos 33%). Isto repete situação semelhante em períodos anteriores.

Sabemos também, por exemplo, que pelo menos metade dos administradores de empresas municipais receberam, durante 2003 e 2004, salários que excederam os limites impostos pela própria lei. Em quase 30% das empresas municipais, os seus salários acumulados ultrapassaram em 75% o vencimento máximo do Presidente da República, incluindo despesas de representação deste.

No sector privado, as remunerações dos conselhos de administração das empresas das principais empresas cotadas em bolsa mais do que triplicaram entre os anos 2000 e 2005.

Por outro lado, em 2006 o poder de compra dos portugueses (assalariados) registou a maior quebra dos últimos 22 anos. Segundo o relatório da Comissão Europeia, os salários reais portugueses caíram em média 0,9% no último ano.
No meu caso concreto a quebra foi 1,9%. Ou seja, este ano só posso comprar 98,1% do que comprava no ano passado. Isto segundo os próprios dados oficiais e falaciosos da inflação.

Dizem eles que aquela evolução dos preços é calculada através do "deflator do consumo privado". Ainda ninguém me explicou é como são feitos os cálculos da inflação. O que eu sei é a realidade: por exemplo, em dois anos e nove meses a renda de casa que pago ao banco (chamada "empréstimo hipotecário") aumentou 19,6%. Suponho que isto não entra para os cálculos da inflação; se entrasse não diriam que os salários reais caíram apenas 0,9% (nem apenas os 1,9% no meu caso).

Hão-de dizer-me que o valor dos empréstimos hipotecários tem a ver com as taxas de juro determinadas pelo Banco Central Europeu, etc, etc. Mas alguém me perguntou se eu queria aderir ao euro ou à UE? (como fizeram nalguns países que não aderiram). O que é que nós ganhamos com o euro e a UE?
O que eu sei é que pago quase mais 20% em menos de três anos, e o salário baixou 2% em um ano, enquanto que o lucro dos bancos aumentou 24% em apenas três meses.

* DN, Público, DN, Agência Financeira.

10 de Maio de 2007
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