Não encontro título apropriado (2)

Devido ao anterior sistema de comentários neste blog não era fácil visualizá-los junto ao respectivo artigo.
O artigo anterior (Não encontro título apropriado) teve um comentário pretinente do senhor Jaime Vogado, por isso vou publicá-lo aqui na íntegra, seguido da resposta.

Comentário:

«"E o que é a ERSE? "A missão da ERSE consiste em fazer cumprir as disposições legislativas para o sector energético". Mas para fazer cumprir a lei não basta o Governo, os Ministérios, os Tribunais, a Polícia, etc.?»

Não, a missão da ERSE não é só essa. Consulte a página da ERSE durante mais do que 2 segundos e aprenderá qualquer coisa.

«"Após receber uma reclamação, a ERSE intervem através da mediação e da tentativa de conciliação das partes envolvidas. Antes, o consumidor tem de reclamar junto do prestador de serviço."
Ou seja, a ERSE não serve para nada.»

?! Não compreendo a dedução lógica acima: a ERSE não serve para nada porque, além de muitas outras atribuições, realiza a mediação entre partes?

«Ou serve apenas para gastar somas astronómicas com os seus administradores. Aliás, antes da questão dos aumentos da electricidade, quem é que sabia que existia uma coisa chamada ERSE?»

Quem sabia? Centenas de consumidores de gás e electricidade atendidos pela ERSE, todas as empresas distribuidoras ou transportadoras de gás e electricidade obrigadas a cumprir os regulamentos elaborados pela ERSE de forma a introduzir justiça e equilíbrio no mercado e pessoas que lêem jornais em vez de pasquins.

«O senhor Vasconcelos demitiu-se porque não concorda que o Governo tenha decretado que a electricidade suba uns escandalosos 6% no próximo ano. Ele e a sua ERSE tinha proposto uns ainda mais escandalosos 14,4%. Certamente seria, entre outras coisas, para cobrir mais umas benesses dos administradores da ERSE.»

Escandalosos porquê? Acha que as tarifas são calculadas com o mesmo cuidado com que você escreve posts? Sabe o que está a criticar? Sabe do que está a falar? Tem a mínima noção do chorrilho de asneiras que acaba de escrever?Sabe que, comparado com 1998, está a pagar 16% menos de electricidade? Sabe que com o aumento de 6% está a passar a factura para os consumidores do futuro? Acha justo? Escandaloso é a facilidade com que alguns indivíduos caluniam pessoas sem saberem nem quererem saber nada sobre o que falam.

Jaime Vogado.


Respostas:

A propósito da notícia de capa do Correio da Manhã de 17 de Dezembro de 2006, sobre a demissão do presidente da ERSE, agradeço o comentário do senhor Jaime Vogado.

1. O assunto fundamental da notícia do jornal não foi desmentido. Corrijam-me se estiver errado.

2. "Não compreendo a dedução lógica acima: a ERSE não serve para nada porque, além de muitas outras atribuições, realiza a mediação entre partes?"
Sim, mas, segundo o jornal, a "mediação e tentativa de conciliação das partes envolvidas" é apenas depois de o consumidor "reclamar junto do prestador de serviço". Óptimo, mas se a reclamação for justa, como um caso que conheço (apesar de complicado), a ERSE não precisa ter esse trabalho.

3. "todas as empresas distribuidoras ou transportadoras de gás e electricidade obrigadas a cumprir os regulamentos elaborados pela ERSE".
Isso não vem escrito na notícia, mas é natural que esse organismo faça isso e muito mais (obrigado pelo esclarecimento). Mas, voltando ao fundamental da notícia descrita no post: para executar essas tarefas é necessário ter administradores pagos milionariamente?

4. "Sabe que, comparado com 1998, está a pagar 16% menos de electricidade?".
Joguem com os números e as estatísticas como quiserem. O que eu sei é que desde que pago electricidade (muito antes de 1998), sempre paguei todos os anos mais. Também sei que em muitos outros países pagaria menos do que pago aqui actualmente. E constou-me (corrijam-me se estiver enganado) que a produção e distribuição de electricidade dá lucro em Portugal.
Além disso, embora sem relação directa, suponho, a ERSE pagando como paga aos administradores também não deve ter falta de dinheiro.

5. "Sabe que com o aumento de 6% está a passar a factura para os consumidores do futuro?"
Aqui está uma coisa em que estamos de acordo: contra a decisão do governo, embora por vias diferentes. Em minha opinião o aumento é excessivo. Em vossa opinão é diminuto.
Quanto a a passar a factura para os consumidores do futuro, isso é fácil de dizer e pode até ser fácil de provar matematicamente ou por jogos estatísticos, mas quem conhece esse futuro realmente? Quem adivinha como vão evoluir os mercados, os preços, os outros factores?
Além disso (chamem-me o que quiserem: conservador, revolucionário, populista, utópico, irresponsável), mas cada vez sou mais partidário da antiga máxima da UDP: os ricos que paguem a crise - agora e no futuro. É triste que Portugal seja dos países com maiores desigualdades sociais, maior diferença entre ricos e pobres. É triste que ainda tenhamos notícias como a que originou esta discussão.

6. "Tem a mínima noção do chorrilho de asneiras que acaba de escrever?"
"Escandaloso é a facilidade com que alguns indivíduos caluniam pessoas sem saberem nem quererem saber nada sobre o que falam."
É respeitosa opinião do senhor Jaime Vogado.
Mas o fundamental, com maior ou menor rigor nos pormenores, é o escândalo social que constitui o assunto principal da notícia em causa.
Outros aspectos, igualmente importantes, mas apenas superficialmente tratados nestes curtos textos, dizem respeito aos preços da electricidade (e respectiva justiça social) e a razão ou necessidade de existência de algo como a ERSE (com os respectivos gastos de funcionamento).

Não resisto a questionar mais uma vez: para fazer o que faz (conforme lemos no artigo do jornal e no comentário do senhor Jaime Vogado), é necessário um organismo que paga salários milionários aos seus administradores? Suponho que a notícia não foi desmentida: "18 mil euros mensais (vezes 14)"; dividindo o valor anual por 365 dias, dá apenas 690 Euros POR DIA. Ao despedir-se, o administrador fica a receber dois terços daquele ordenado durante dois anos...
E ainda me vêm falar em crise, em défice, em sustentabilidade da segurança social, em preços justos da electricidade...
Como dizem alguns comentários à notícia, um tanto infelizes mas que se compreendem no que têm de revolta: volta Salazar, estás perdoado.
Depois, volta também Otelo e Major Tomé e comecem tudo de novo, pois o trabalho foi muito mal feito.
Exceptuando alguma liberdade e o fim da guerra colonial, há agora mais razões para um 25 de Abril do que em 1974. José Sócrates não é melhor que Marcelo Caetano; a diferença é que tem (?) a consciência mais tranquila, pois temos um simulacro de democracia e não precisa preocupar-se com a PIDE e com a guerra colonial (que davam cabo da imagem do anterior regime no exterior).

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