Inflação sentida?

Já tenho visto muitas brincadeiras com as estatísticas e os inquéritos de opinião, mas esta está demais.
No caderno “Economia” do Diário de Notícias de 14 de Setembro de 2006 o tema do dia (páginas 1 a 3) é “Inflação sentida é superior à verificada”, da autoria de Manuel Esteves e Sérgio Aníbal.
Entre outras coisas é afirmado que “as pessoas tendem a dar mais importância aos produtos que consomem muito frequentemente” (obviamente) “seja qual for o peso no seu orçamento”. Acrescentam que os “cabazes de preços que são relevantes para cada pessoa nem sempre coincidem com aquele que é utilizado pelas entidades oficiais” (tal como já há muito desconfiava).
Ora bem, se eu não consumo o cabaz oficial, a inflação que eu sofro é diferente da inflação oficial (e não “psicológica, como dizem no artigo).
O problema está precisamente como é que o Instituto Nacional de Estatística calcula a inflação oficial. Segundo o artigo do DN, por exemplo os automóveis novos têm um peso de 7,4% no cálculo, os restaurantes 4,9%, o pão 2,2%, o leite 0,9%.
Agora digam-me: quantos portugueses gastam 7,4% do seu rendimento a adquirir automóveis novos?
Ou pior ainda: já que a inflação afecta muito mais as pessoas de baixos rendimentos, quantos, entre esses, gastam 7,4% do seu dinheiro em carros novos e 4,9% em idas a restaurantes?
Uma das explicações mais curiosas para a tal “inflação psicológica” é afirmar que a subida de preço pela qualidade não é inflação, apesar de a hipotética melhoria da qualidade ser imposta, queira ou não o consumidor, como reconhecem os autores do artigo. Os exemplos dados (iogurtes açucarados e telemóveis que fotografam) dispensam comentários. O problema é que, como ficamos a saber, o INE desconta esse hipotético efeito qualitativo, excluindo-o da inflação. Chamam a isso “preços hedónicos”!
Conclusão: o INE usa um cabaz irreal e umas certas artimanhas para calcular a inflação oficial, que é depois usada na propaganda governamental, nomeadamente para as actualizações salariais. Mas a população, principalmente a mais desfavorecida, sofre uma inflação real, que não conta para as estatísticas e até é chamada “psicológica”.
Uma parte do artigo encontra-se em DN Online.

Ver também:
O Estado ao serviço do Capital
Onde é que está o dinheiro?

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1 comment:

Anonymous said...

Apetecia-me dizer apenas: "sem comentários". Mas isto que que a "democracia" actual, com o Sr. Eng. Sousa, nos anda a fazer, dava para várias páginas de comentários. Direi que, entre outras atitudes que o povo, que não é estúpido, devia tomar, era votar branco ou nulo nas próximas eleições (apesar de não simpatizar com o "Sarabago"). Nunca pensei chegar ao ponto de achar que estas atitudes radicais seriam o caminho, mas não vejo outro. A não ser que tenhamos de fazer uma Revolução para nos safármos da "democracia". Este Sr. Eng. e as sociedades secretas que estão por trás, não duvido, já nem se dão ao trabalho de verificar se estão a gozar com o pequeno povo mestinho e ignorante (atenção que eu não adjectivo assim o povo por mim!), ou também com as camadas do povo um pouco mais informadas e que, por enquanto, ainda conseguem raciocinar acima da política dos três F`s do Salazar: Fátima, Fado e Futebol, para entreter e estupidificar o povo. Só me apetece dizer: não voltes ditadura, mas estás perdoada!
Juvenal