Lanchas "voadoras"

Segundo a revista "Sábado", de 18 de Janeiro de 2007, a PJ apreendeu uma lancha de tráfico de droga que estava em reparação num estaleiro de Vila Real de Santo António.

"Meses a fio, a lancha voadora Zenith, rainha dos mares, fez vários descarregamentos de cocaína nas costas da Península Ibérica e fugiu aos helicópteros espanhóis."
"O iate, de 24 metros de comprimento, equipado com três motores de 850 cavalos cada um, pode navegar com bom tempo à velocidade de 45 nós."

A não ser que a notícia esteja muito mal escrita, há aqui qualquer coisa incompreensível. A lancha, apesar de apelidada "voadora", não voa e, no máximo, nem chega aos 90 km/h; isso é muito no mar, mas não é nada comparado com a velocidade dos helicópteros no ar (p.e. os Lynx da Marinha Portuguesa atingem os 256 km/h). Como é que os helicópteros deixam "fugir" estas lanchas? No mínimo deviam conseguir segui-las.

Ainda segundo a notícia,
"A frota [de lanchas dos traficantes] cresceu. Gibraltar, enclave britânico em Espanha, zona franca, e Nador, em Marrocos, são hoje os portos das voadoras. Pelo menos 200 lanchas transportam diariamente toneladas de droga para as costas do Atlântico e do Mediterrâneo como táxis fretados pelas traficantes."

Como é que não são interceptadas ou pelo menos seguidas? Eu sei que não é fácil perseguir uma lancha no mar à velocidade de 45 nós, mas:

- os radares (para detecção ou seguimento) funcionam à velocidade da luz;
- as peças de artilharia disparam munições a uma velocidade muitíssimo superior à velocidade das lanchas;
- os meios aéreos atingem velocidades também muito superiores às lanchas "voadoras";
- as autoridades também podem ter lanchas com as mesmas características; e
- as lanchas não vão sempre a 45 nós: quando atracam em Gibraltar ou Nador a sua velocidade é zero.

Há qualquer coisa que não bate certo nesta história.

Agora, que fazer à lancha apreendida? Segundo a notícia,

"o iate podia ser entregue à Brigada Fiscal da GNR para patrulhamento da costa e intercepção de outras lanchas voadoras - mas essa hipótese já foi afastada, pela pior razão: os potentes motores gastam tanta gasolina que não há dinheiro para isso."

Bom, assim já se compreende melhor porque é que os helicópteros (pelo menos os portugueses) não conseguem perseguir as lanchas: um helicóptero gasta muito mais combustível que um iate destes.

Na foto está um helicóptero belga sobre a Baía das Gatas, ilha de São Vicente, Cabo Verde, durante o exercício Steadfast Jaguar 2006, da NATO, em Junho.

19 de Janeiro de 2007. [Retorna a: * Back to: Índice * Index]