25 de Abril - a revolução falhada

33 anos após o 25 de Abril, qual é o balanço?
A chamada Revolução foi pouco mais que um Golpe de Estado.
A alteração do regime constitucional poderá ser classificada como revolução, mas na prática, 33 anos depois, o que temos é o resultado de um mero golpe de Estado que ocorreu em 1974.

O 25 de Abril acabou com a Guerra Colonial. Esta guerra foi a causa imediata do golpe de Estado e o seu fim é talvez o maior mérito da chamada Revolução dos Cravos.

Outra grande conquista de Abril foi a liberdade, mas mesmo essa está cada vez mais ameaçada. É certo que já ninguém é torturado no Tarrafal nem no Forte de Peniche, mas há cidadãos perseguidos e detidos por delito de opinião e manifestação (como por exemplo os de extrema-direita [por leis discriminatórias] e os militares [por incumprimento ou abuso da lei por parte do Estado]).

Quanto ao resto (censura, democracia ou falta dela), apenas os métodos mudaram, foram refinados. Tenho (ainda) liberdade para dizer isto, mas não serve de grande coisa, face ao absolutismo e aos meios à disposição do poder democrático.

Antes de 1974 também havia eleições; a maioria absoluta pertencia sempre ao partido único, a União Nacional/Acção Nacional Popular. Havia, contudo, uma Ala Liberal constituida por políticos que passaram para os partidos pós-25 de Abril.
Agora como é? A maioria absoluta (53% dos mandatos na Assembleia da República) do actual partido do governo foi conseguida com apenas 29% dos votos. Além disso, nestas três décadas de democracia formal, em vez do partido único ANP, o poder tem estado sempre nas mãos dos partidos "únicos" PS-PPD/PSD, por vezes apoiados pela ala liberal (CDS/PP).

Materialmente, há (?) menos miséria, mas as injustiças sociais são a vergonha nacional. A diferença entre ricos e pobres é a maior da Europa.
O poder económico-financeiro continua (ou voltou) a estar concentrado em grandes corporações (ou grupos, como agora se diz), que obtêm lucros fabulosos à custa da exploração dos assalariados.
A mistura/fusão entre poder económico, poder político e poder mediático é praticamente total. Com esta liberdade não é preciso censura formal. Com esta democracia não é preciso ditadura.

Até na descolonização, a revolução falhou. A retirada à pressa deixou as ex-colónias entregues ao caos, à guerra, à corrupção e à miséria durante as décadas seguintes (com a impressionante excepção de Cabo Verde, o território inicialmente mais pobre).

23 de Abril de 2007.

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Na foto, monumento ao 25 de Abril em Lisboa (a coluna maior não faz parte; pertence às colunas do Parque Eduardo VII). Suponho que o escultor também estava a pensar numa revolução falhada quando criou esta obra de arte. Parece que há mais quem concorde comigo. Vê por exemplo em Universos Assimétricos, artigo "Monumento ao 25 de Abril ... O", que encontrei já depois de escrever o meu texto acima. Transcrevo o último parágrafo:

Todo o monumento se lê como: escombros. O 25 de Abril não teve tempo para construir um novo edifício nacional ou quem liderava não teve tomates, não teve vontade, não teve pujança eréctil para levar a Revolução mais longe. O cravo foi esmagado, as colunas partidas. De antigo, só se derrubou um pequeno pedestal. Sobranceiros, lá se mantêm intactos os majestosos pilares do Estado Novo, poderosos, eternos!

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